Pecuarista é principal desafiado com abertura de mercados

A potencialidade de comercialização da carne brasileira para a China e Estados Unidos se tornou um desafio para indústria, mas também para o criadores brasileiros que ampliam a responsabilidade de produzir animais, em maior volume e qualidade, na meta de atender mercados cada vez mais criteriosos. Segundo a JBS, dentro deste cenário, a falta de sincronia entre os pecuaristas pode não deve prevalecer e a região Centro-Oeste terá papel imprescindível, por se tratar da região com maior volume de produção e com níveis de qualidade a se elevar.

Segundo Eduardo Krisztán Pedroso, do setor de originação da multinacional, há um processo de produtividade com qualidade a ser superado e que atenda aos desafios. “Temos que mudar a fase da nossa produção de proteína, sair da carne ingrediente para alcançar a culinária e a gourmet. A evolução de mercado requer mudança de modelo mental. Há um longo caminho a ser seguido, ainda que tenhamos projetos de ponta em nossa pecuária, não há sincronia do campo”, sinaliza.
Entre as respostas para a frenética demanda por carne dentro e fora do País, o diretor geral do Grupo Nelore Grendene, Ilson Corrêa, aponta que há estratégias da porteira para dentro, mas concorda quanto à necessidade de sincronia entre os produtores rurais. “Realizamos, anualmente, o maior leilão de touros do mundo, com a finalidade de distribuir genética capaz de desenvolver outros plantéis com a mesma capacidade que a Fazenda Ressaca. Em contrapartida, verificamos que há produtores que não cumprem com o dever de casa e deixam de investir.  Isso estimula um decréscimo na qualidade, com impacto para toda classe produtora”, destaca Corrêa. “A busca por qualidade está na base. Cabe ao pecuarista empreendedor optar pela produção de carne de alto padrão e ter valorização do seu produto, ou então se manter em moldes arcaicos, oferecendo ao mercado uma carne sem muitos atributos, ignorando a genética disponível”, completa.
Como todo o mercado, independente do ramo, há o que se melhorar na pecuária nacional e não é diferente no Estado que concentra o maior rebanho do País, Mato Grosso. “Nós, e os pecuaristas, temos a responsabilidade de colocar, na mesa do consumidor, uma carne macia e saborosa, que será apreciada diariamente. A população está crescendo e dispondo de mais renda, isso aumenta o nosso trabalho, pois, a cada dia, haverá mais pessoas demandando um produto melhor, que vem de animais castrados, novilhas gordas ou animais inteiros, com idade máxima de dois anos e acabamento de gordura superior a três milímetros”, afirma Pedroso.
Dados que confirmam o cenário desenhado pelo diretor da Nelore Grendene foram levantados, recentemente, pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (abiec), no estudo sobre a imagem da carne brasileira no mercado externo. Das classificações possíveis entre carne ingrediente, culinária ou gourmet, a proteína animal produzida no Brasil ainda está no nível ingrediente, sob a ótica dos importadores, com destino prioritário para produtos industrializados, como embutidos, conservas e carne moída, ou seja, produto regular de mercado, sem valor agregado. “Existem oportunidades para melhoria dos resultados da cadeia produtiva da carne bovina, em geral. Para tanto, é necessário expandir a educação comercial do produtor, com foco na produção de carne de qualidade e atendimento das expectativas do consumidor”, garante Eduardo Krisztán Pedroso.
Há uma barreira a ser derrubada pelos criadores, segundo o JBS, que ao analisar os abates de animais no sudoeste de MT com o Brasil, detecta a oportunidade para reduzir a idade de abate e melhorar o acabamento das carcaças.
O Farol da Qualidade da JBS, matriz que aponta a qualidade das carcaças, considerando parâmetros de sexo, idade, peso e acabamento, revela que apenas 10% dos animais abatidos no Vale do Guaporé têm carcaças que se enquadram no Farol Verde, ou seja, possuem características desejáveis pelo mercado da carne. No Brasil, essa média é de 14%, percentual também considerado baixo. Carcaças no Farol Amarelo, com características toleráveis, são 54% no sudoeste do Estado, contra 53% de média nacional. Já as carcaças no Farol Vermelho, padrão indesejável pelo mercado, somam 36%, três pontos além do indicado na média brasileira, de 33%. Segundo a multinacional, os números mostram uma oportunidade de melhoria genética do rebanho da região, criando bezerros com potencial para maior ganho de peso e precocidade de acabamento. Isso se soma à disponibilidade de grãos, o que é necessário para a intensificação da atividade. Uma porta aberta para a região seguir evoluindo no tripé da produção animal: genética, nutrição e manejo.
Sobre o aumento da rentabilidade do produtor rural, que opta pela qualidade, e confirmando seu papel no potencial da carne consumida no mercado interno e externo, o JBS afirma que, no quesito preço, os protocolos de tipificação estão avançando rapidamente, fazendo com que surjam melhores oportunidades de remuneração ao pecuarista, vinculadas à qualidade das carcaças abatidas. Dentro da porteira, o pecuarista tem ferramentas para capturar tal valor e que estão em suas mãos, como aumento de produtividade, redução da idade de abate (forte impacto na demanda de capital de giro e custo financeiro), carcaças mais pesadas e de maior rendimento (conformação superior e animais precoces com acabamento de três a dez mm de gordura). “Fazendo uma analogia, a carcaça é a embalagem da pecuária e preenchê-la, adequadamente, significa aumento de produtividade e, por consequência, do faturamento por hectare da propriedade rural. Isso é aumentar a renda do produtor economicamente antenado,” enfatiza Pedroso.
Ao considerar o depoimento do representante do JBS, Corrêa se utiliza da Nelore Grendene como exemplo e aponta o que valorizou o plantel administrado por ele. “A inserção da propriedade em programas de melhoramento genético, o acompanhamento técnico-científico, a integração com outras culturas, que aumentam a produção de forma vertical e sustentável, e outras estratégias que podem ser facilmente adotadas por pecuaristas de todas as regiões, elevaram a margem de lucro anual e nos apresenta, atualmente, como referência na produção da raça nelore”, pontua. “Dentro deste mercado internacional, existe a necessidade da união dos pecuaristas brasileiros que prezam por genética de procedência, para que, posteriormente, por meio da indústria frigorífica, possamos apresentar o nelore como uma carne de excelência aos investidores estrangeiros, alcançando mercados ainda maiores, infinitos e valorizados”.
Contudo, apesar das inúmeras barreiras e passos largos a serem dados, o pecuarista brasileiro tem o que se comemorar, pois mercados se abrem e crescem conjuntamente à valorização do seu trabalho e produção. Com o Brasil consumindo 80% da sua produção de carne, o consumo não obedece a proporção natural dos cortes da carcaça, o que faz das exportações um importante regulador de preços de mercado do boi gordo. Nos primeiros meses de 2015, os principais destinos externos da carne brasileira passaram por crise econômica e, consequente, reduziram o poder de compra de suas moedas, como aconteceu com a Rússia, Venezuela e Oriente Médio. Do outro lado, a dificuldade da reposição força a alta dos preços do boi gordo e abate de animais mais pesados, mesmo que tardios.
Relacionando estes aspectos, Pedroso desenha um panorama bastante otimista, não só para os produtores, mas também para os consumidores. “Os preços elevados da carne nas gôndolas estão afetando a régua da demanda do mercado doméstico e a estabilidade do mercado no curto prazo. Mas as projeções são otimistas para o segundo semestre, com a recuperação dos volumes e abertura de novos mercados de exportação e seu equilíbrio com o mercado interno. É indiscutível a vocação brasileira para ocupar espaço na demanda crescente por carne bovina, projetada para as próximas décadas”, finaliza.

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